segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Interpretando o Brasil (parte 1): von Martius

O primeiro trabalho científico (com metodologia e objetos bem definidos) sobre o Brasil como nação coube a um estrangeiro, o alemão (então bávaro) Karl Friedrich von Martius (1794-1868), que visitou o país entre 1817 e 1820, visitando numa longa expedição de sul a norte, saindo do Rio e indo até mesmo ao Amazonas.
A obra que escreveu, Como se deve escrever a história do Brasil, foi motivada por um concurso para escolher o melhor projeto para elaborar uma história do Brasil, promovido em 1840 pelo recém-fundado IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), órgão criado elo imperador D. Pedro II como parte dos esforços de fomentar uma "nacionalidade" brasileira em contraponto ao ex-colonizador. von Martius escreveu seu trabalho em 1843, publicou-a em 1845 e a teve premiada como vencedora do concurso em 1847.
Entre as principais ideias ali expressadas estavam a de que o país teria que se fortalecer difundindo entre os brasileiros sentimentos de patriotismo e irmandade, atentando para a "peculiar" formação de nosso país, formado pela convergência de três "raças" (o índio, o branco e o negro) e de que a relação entre essas raças deveria ser levado em conta nesse projeto, propondo (ainda que não claramente) a imagem de um país mestiço que seria o grande tema de debates de nossos intérpretes posteriores no século XX.
Essa proposta de von Martius, que foi seguida quase à risca, adequa-se à teoria da construção artificial das nacionalidades, de Benedict Anderson, para quem a nação é "como uma comunidade política imaginada", sendo limitada simultaneamente pela geografia e pela própria mentalidade de seu povo.


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